Por Ângelo Alves*Abr.10 ::
Comemorar o nascimento de Lenine, quando a informação única pretende apagar na memória dos povos o imenso legado de Lenine como teórico marxista, revolucionário e dirigente de massas, não é apenas um acto de justiça. A leitura das suas obras e o conhecimento da sua acção são indispensáveis, ainda mais na presente crise do capitalismo, para travar as muitas batalhas que a classe trabalhadora, o povo, tem pela frente e para compreender "que muitas das grandes questões sobre as quais Lénine se debruçou estão, apesar das condições muito diferentes, bem vivas na actualidade."
Comemoram-se hoje os 140 anos do nascimento de Lénine. Para um Partido como o PCP esta é sempre uma importante data a assinalar. E só poderia ser assim. Pelo papel central que teve no enriquecimento e brilhante defesa do marxismo; pelo seu empenho na defesa da dialéctica entre teoria e prática revolucionárias; pelo papel de dirigente e guia da primeira revolução socialista vitoriosa da História e fundador do primeiro Estado de operários e camponeses; pelo legado histórico que deixou na definição, construção, organização e fortalecimento do Partido independente do proletariado – o Partido de novo tipo – e na fundação e direcção da Internacional Comunista e do alargamento à escala mundial do movimento comunista e revolucionário, por tudo isto, Lenine esteve, está e estará presente na História, acção, intervenção, luta, características e princípios de funcionamento do Partido Comunista Português.
Mas se o que se disse bastaria para justificar a importância desta comemoração, os tempos que vivemos conferem-lhe um significado ainda mais especial. O aprofundamento da crise do capitalismo coloca apaixonantes desafios aos revolucionários de hoje. Como Lénine no seu tempo, somos chamados a travar várias batalhas, a realizar inúmeras tarefas e, simultaneamente e em movimento, a retirar lições das experiências passadas – tal como Lénine retirou da Comuna francesa ou da Revolução russa de 1905 – para seguir em frente. Como Lénine, temos de proceder à análise concreta e rigorosa da situação concreta, de identificar correctamente as condições, objectivos, etapas, métodos, alianças e tácticas que, no quadro da resistência à crescente ofensiva do imperialismo, permitam atrair para a luta as camadas mais recuadas e vulneráveis à cultura do medo e do conformismo que o imperialismo lhes tenta incutir e organizá-las em torno dos seus interesses de classe, fazendo assim avançar a marcha da História de emancipação dos trabalhadores e dos povos e «varrer o velho».
Este é daqueles momentos em que vale a pena revisitar Lenine. Não para encontrar respostas mecânicas ou modelos – Lenine foi um feroz adversário do dogmatismo e da escolástica - mas para entender que muitas das grandes questões sobre as quais Lénine se debruçou estão, apesar das condições muito diferentes, bem vivas na actualidade. Aí está o Imperialismo como fase superior do capitalismo acentuando a sua contradição fundamental e o seu desenvolvimento desigual(1). Aí estão os Estados funcionando como gestores dos interesses da classe dominante, explorando e oprimindo os povos(2). Aí estão, num momento de potenciais viragens – mais ou menos profundas, mais ou menos esperadas - as tendências para a manifestação de «esta ou aquela variedade de revisionismo»(3). Aí estão os «Estados Unidos da Europa» a assumir, sob o capitalismo, o seu carácter reaccionário(4). E aí está, mais viva que nunca, a necessidade de olhar para a teoria como «um guia autêntico para acção» que só o é «quando se enriquece constantemente com as novas experiências de luta, de modo a não se transformar em dogma»(5).
Dentro de dias comemoraremos também a Revolução de Abril. Uma comemoração que se impõe ser de luta contra o ataque cerrado aos valores e às conquistas de Abril e à Constituição da República. Mas ao comemorarmos Abril também encontramos Lénine. Encontramos a riqueza que ele sempre reconheceu à História e à realidade. Encontramos os avanços e os recuos dessa mesma História e as peculiaridades no desenvolvimento da luta. Encontramos o papel determinante das massas e a necessidade de com elas aprender, aprender, sempre. Encontramos por fim o amor ao povo, a paixão revolucionária, os tais corações ardentes que fazem da nossa luta, da luta pelo Socialismo, uma festa bonita.
Notas:
[1] «O imperialismo, fase superior do capitalismo» – V.I. Lénine (1916)
[2] «O Estado e a Revolução» – V.I. Lénine (1918)
[3] «Marxismo e Revisionismo» – V. I. Lénine (1908)
[4] «Sobre a Palavra de Ordem dos Estados Unidos da Europa» - V. I. Lénine (1915)
[5] «Que Fazer» - V.I Lenine (1902)
* Membro da Comissão Política do PCP; texto foi publicado no Avante nº1.899 de 22 de Abril de 2010.
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